quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Conversa de quarta-feira.

Acho bom que não me pergunte o por quê da minha insistência em falar contigo. Sabe, andei pensando em como as coisas que me são tangíveis acabam se desfazendo entre meus meus dedos quando as toco. Não estou fazendo drama algum, e é óbvio que estou me referindo ao sentido figurado, oras.
Comecei a pensar nisso, hoje, no banheiro. Sim, eu havia acabado de tomar um banho quente, saía do box e me defrontei com o espelho embaçado do armário, onde ficam as escovas de dente. Senti-me angustiado com minha solidão. Decidi ver minha cara. Pensei, "a solidão é quando sinto necessidade da presença de alguém", fiz uma pausa. Continuei,"tenho quase 21 anos e o que aconteceu às pessoas que conheci?".
Estendi o braço direito de forma delicada para limpar a superfície inútil do espelho. Esbarrei sem querer na armação da estrutura oval que contorna o espelho. Ela se soltou e caía. Apático, eu disse, "merda". Terminei de limpar umidade que se acumulara no espelho. Vi meus olhos. Enquanto olhava aquele olhar indiferente, me pus a pensar, "será que eu sou o desastrado que destrói tudo o que toca, ou serão as coisas frágeis demais?". Fechei os olhos por alguns segundos e virei a face, não gostaria de ter que me olhar de novo. Sem olhar minha cara, pus a armação novamente em seu lugar. "Isso é fácil de consertar." Pensei, livre dos outros pensamentos, e sorri.
Sei que estás me ouvindo, por mais que estejas calado e olhando pra essa revista. Bem sei que não gostas de falar sobre essas coisas, também. Estou falando dos meus pensamentos, não do que faço quando estou no banheiro. Eu sei que ocorreram no banheiro, mas poderiam ter acontecido em qualquer outro lugar. Maldita hora em que citei o banheiro, conseguistes o pretexto que querias para fugir de conversar comigo. Também pouco me importa se queres falar a respeito, sei que você me ouviu. E se eu sinto vontade de falar isso é só para não me sentir tão solitário assim.
Enquanto folheias essa revista que, muito provavelmente, traz as novas modas do momento; penso em como, talvez, meus vínculos familiares, amorosos e afetivos são frágeis. Pelo menos estou apredendo a lidar com isso, olhe só para nós dois.

Um comentário:

  1. Muito bom Raphael, a riqueza de detalhes que nos instiga. Continue a postar!

    ResponderExcluir